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Tópico - Testemunho - Alberto Neves de Melo


Utilizador Alberto Neves de Melo, Citar


Anabela:


Olá, Boa Tarde,


Passei oito dias numa maca (também sem almofada ou com um cobertor enrolado num lençol para apoiar a cabeça) num corredor do SO, com graves hemorragias digestivas de etiologia desconhecida e suporte transfusional, isto é, muito repentinamente vi-me sozinho, numa maca, somente com direito a visitas "relâmpago" da minha esposa (as minhas filhas com 1 e 5 anos de idade não podiam (nem deviam entrar!)). Da minha maca assisti a um pouco de tudo: à dedicação de alguns(algumas) médicos/as, à dedicação e ao extenuante trabalho dos/as enfermeiros/as, ao abnegado trabalho de alguns (algumas) auxiliares. Porém o SO é um "inferno" onde é muito difícil trabalhar! Os doentes entram assintomáticos, sem doença bem conhecida ou muito fragilizados pela idade e/ou pela doença. É um mau sítio para estarmos! Ou descobrem rapidamente a origem da doença aguda (que origina o internamento) e/ou da posterior infecção hospitalar (muito frequente) e transferem o doente para o Serviço específico (especialidade, com maior especificidade da terapêutica e menor risco de infecção "oportunista") ou as probabilidades de sobrevivência ficam seriamente afectadas.


Da minha maca, em oito dias, assisti a um pouco de tudo, incluindo falecimento de doentes à minha volta. Porém, posso garantir-lhe que todos os doentes são tratados com o maior empenho, com respeito e dignidade, por todos os profissionais de saúde que anteriormente referi. Naquele ambiente é praticamente impossível fazerem melhor, nem com a ajuda dos familiares podem contar...


Assisti a "episódios" semelhantes ao da sua mãe... o SO alberga a fase aguda de muitas e diversificadas doenças.  A infecção hospitalar abunda, "assombrando" médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, auxiliares, doentes e família (visitante). O SO só serve para tentar "estabilizar" o doente e dar-lhe alta hospitalar (foi o que inicialmente aconteceu comigo e com a sua mãe) ou transferi-lo para outro Serviço (já com o diagnóstico relativamente preciso e a terapêutica para suporte de vida já instituída). Com a sua mãe, aparentemente tudo correu com "normalidade" no primeiro internamento... depois pode ter sido vítima de infecção hospitalar (adquirida no primeiro internamento) e/ou de um súbito agravamento da doença (depende também da fase em que o cancro se encontrava). Infelizmente não conseguiu - como tantos outros/as - sobreviver à fase aguda e a dois internamentos no SO, embora acredite que, dentro das contingências em que os profissionais de saúde se "movimentam" no SO, a sua mãe foi tratada com dignidade e algum sentimento de impotência por parte dos profissionais de saúde, que lutam com o excessivo número de população doente, passando grande parte do tempo a tentar "encaixar" os doentes para fora do SO, para as "Enfermarias" onde o tratamento e a terapêutica normalmente são mais eficazes (e a permanência da família pode auxiliar imenso). É uma "luta" terrível e algo frustrante, na qual são muitas vezes "derrotados"!!!


Não culpe os profissionais de saúde. Nem o Serviço Nacional de Saúde. Se quiser culpe quem tem responsabilidades políticas e não providencia melhores condições de trabalho aos profissionais de saúde e de recuperação aos doentes.


A sua mãe continuará convosco eternamente, fazendo relembrar factos, lugares e actividades desenvolvidas! Os pais e familiares que amamos nunca nos deixam, não os vêmos físicamente, é verdade, mas estão sempre dentro de nós, no nosso pensamento, a "guiar-nos" na nossa vida, fazendo-nos recordar os momentos bons e tudo o mais que aprendemos com eles.


Um Abraço, com votos de muita saúde,


Alberto


14-06-2011, 12:28
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